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Dicas do Dr. Barros: como evitar insônia em idosos

Por Equipe Goldies • 28 de junho de 2025 • Dicas Curtas

Índice

Introdução: As Transformações do Sono com o Envelhecimento

O sono é um pilar fundamental da nossa saúde e bem-estar em todas as fases da vida. No entanto, com o passar dos anos, é natural que a qualidade e a quantidade de horas de sono durante a noite diminuam. Como bem apontado pelo Dr. Rodrigo Barros, sócio médico da Goldies Saúde Integrada, a maioria dos indivíduos saudáveis com mais de 75 anos apresenta mais despertares noturnos, frequentemente para ir ao banheiro, e tende a cochilar durante o dia. Essas mudanças, embora comuns, podem ser um indicativo de que o corpo e a mente estão enfrentando novos desafios.

Este artigo aprofunda as alterações fisiológicas do sono na terceira idade, explora como doenças prevalentes nessa faixa etária – como doenças respiratórias, Parkinson e demência de Alzheimer – podem promover alterações significativas no padrão de sono, e, crucialmente, enfatiza a importância de procurar um especialista caso a dificuldade para dormir persista. Nosso objetivo é desmistificar o sono no envelhecimento, identificar os sinais de alerta e oferecer caminhos para garantir um descanso reparador, essencial para a função cognitiva e a qualidade de vida.

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O Ciclo do Sono que Envelhece: Mudanças Fisiológicas

O sono não é um estado homogêneo; ele é composto por ciclos de diferentes estágios, incluindo o sono REM (Rapid Eye Movement), associado aos sonhos, e o sono não-REM, que se divide em estágios de sono leve e sono profundo (ondas lentas). Com o envelhecimento, a arquitetura do sono se altera:

Menos Sono Profundo: Idosos tendem a ter menos sono de ondas lentas (sono profundo), que é crucial para a recuperação física e a consolidação da memória.
Mais Sono Leve: consequentemente, passam mais tempo nos estágios de sono leve, que é menos restaurador.
Aumento dos Despertares Noturnos: a fragmentação do sono é uma característica marcante. É comum que idosos acordem várias vezes durante a noite, seja por necessidade fisiológica (como a micção noturna, ou noctúria, que se torna mais frequente), dor, desconforto ou simplesmente por terem um sono mais “raso”.
Avanço de Fase: o relógio biológico (ritmo circadiano) pode se adiantar, levando o idoso a sentir sono mais cedo à noite e a acordar mais cedo pela manhã.

Essas mudanças fisiológicas, por si só, já podem impactar a sensação de descanso, mas são frequentemente agravadas por outros fatores.

Cochilos Diurnos: Aliados ou Vilões?

O cochilo durante o dia é uma prática comum entre os idosos, muitas vezes como uma forma de compensar o sono noturno fragmentado. Embora um cochilo curto (20-30 minutos) possa ser benéfico para melhorar o estado de alerta e o humor, cochilos longos ou muito próximos da hora de dormir podem prejudicar ainda mais o sono noturno, entrando em um ciclo vicioso de sono diurno excessivo e sono noturno insuficiente.

Doenças Prevalentes na Idade Avançada e Suas Relações com o Sono

O vídeo destaca que algumas doenças mais prevalentes com a idade podem “promover alterações do sono”. A relação entre saúde e sono é bidirecional: doenças podem prejudicar o sono, e um sono de má qualidade pode agravar doenças existentes.

1. Doenças Respiratórias

Apneia Obstrutiva do Sono (AOS): extremamente comum em idosos, a AOS causa paradas respiratórias repetidas durante o sono, levando a ronco alto, engasgos e múltiplos despertares. Isso resulta em sono não reparador, sonolência diurna excessiva, fadiga e um risco aumentado de doenças cardiovasculares e acidentes vasculares.
Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC): condições como bronquite crônica e enfisema podem causar falta de ar, tosse e desconforto, dificultando o sono.

2. Doença de Parkinson

O Parkinson é uma doença neurodegenerativa que afeta o movimento, mas também tem um impacto significativo no sono. Pacientes podem apresentar:

Insônia: dificuldade para iniciar ou manter o sono.
Distúrbio Comportamental do Sono REM (DCSREM): onde o indivíduo “atua” seus sonhos, com movimentos violentos e vocalizações, o que pode ser perigoso para ele e para o parceiro de cama.
Síndrome das Pernas Inquietas (SPI): uma necessidade incontrolável de mover as pernas, geralmente acompanhada de sensações desconfortáveis, que pioram à noite.
Sonolência Diurna Excessiva: apesar das dificuldades noturnas.

3. Demência e Doença de Alzheimer

As demências, incluindo a doença de Alzheimer, causam profundas alterações no ciclo sono-vigília:

Inversão do Ciclo: muitos pacientes com demência podem ter o sono fragmentado à noite e apresentar agitação ou confusão (fenômeno do “pôr do sol” ou sundowning), enquanto dormem excessivamente durante o dia.
Distúrbios do Sono: insônia, apnéia do sono e DCSREM são comuns.
Impacto na Função Cognitiva: a privação de sono pode agravar os sintomas cognitivos da demência, criando um ciclo vicioso.

Outras Condições Médicas e Medicamentos

Diversas outras condições e medicamentos podem afetar o sono em idosos:

Dor Crônica: artrite, fibromialgia e outras dores podem dificultar o adormecer e causar despertares.
Doenças Cardiovasculares: insuficiência cardíaca, arritmias e hipertensão podem impactar o sono.
Diabetes: pode causar noctúria e neuropatia periférica que afeta o sono.
Depressão e Ansiedade: são condições psiquiátricas altamente prevalentes em idosos e frequentemente associadas a distúrbios do sono.
Uso de Múltiplos Medicamentos (Polifarmácia): muitos medicamentos comuns em idosos (diuréticos, betabloqueadores, corticóides, alguns antidepressivos) podem ter efeitos colaterais que afetam o sono.

Consequências de um Sono de Má Qualidade em Idosos

Apesar de ser “natural” que o sono mude com a idade, um sono de má qualidade e não reparador pode ter consequências sérias, levando a uma “perda da nossa função cognitiva e menor qualidade na nossa vida”:

Declínio Cognitivo: a fragmentação do sono e a redução do sono profundo afetam a memória, a atenção e a capacidade de raciocínio. A privação crônica de sono pode inclusive aumentar o risco de demência.
Aumento do Risco de Quedas: a sonolência diurna, a tontura ao levantar e a diminuição do estado de alerta aumentam o risco de quedas, que podem levar a fraturas graves.
Piora de Doenças Crônicas: um sono inadequado pode descontrolar a pressão arterial, o diabetes e agravar doenças cardíacas.
Problemas de Humor: insônia e sono fragmentado estão fortemente ligados a sintomas de depressão, ansiedade e irritabilidade.
Redução da Qualidade de Vida: a fadiga constante, a falta de energia e a dificuldade de concentração limitam a participação em atividades sociais e de lazer, diminuindo a autonomia e o bem-estar geral.

Estratégias para Melhorar o Sono na Terceira Idade

Embora o sono mude com a idade, é possível adotar hábitos e buscar ajuda para melhorar sua qualidade:

Higiene do Sono:
- Mantenha um horário de sono regular: vá para a cama e acorde no mesmo horário todos os dias, mesmo nos fins de semana.
- Crie um ambiente propício ao sono: quarto escuro, silencioso e com temperatura agradável.
- Evite estimulantes: cafeína e nicotina, especialmente à tarde e à noite.
- Limite o álcool: embora possa induzir o sono inicialmente, o álcool fragmenta o sono mais tarde.
- Evite telas antes de dormir: a luz azul de celulares, tablets e TVs pode atrapalhar a produção de melatonina.
- Cochilos Estratégicos: se precisar cochilar, que seja um cochilo curto (20-30 minutos) e no início da tarde.
Atividade Física Regular: Exercícios moderados durante o dia podem melhorar o sono, mas evite atividades intensas muito perto da hora de dormir.
Dieta Equilibrada: evite refeições pesadas ou muito condimentadas à noite.
Gerenciamento de Doenças Crônicas: mantenha o acompanhamento médico para controlar condições como diabetes, hipertensão e dor crônica.
Revisão de Medicamentos: converse com o médico sobre todos os medicamentos em uso, pois alguns podem estar afetando o sono.

Quando Procurar um Especialista: Não Ignore a Dificuldade para Dormir

A mensagem final é crucial: “se você estiver tendo alguma dificuldade para dormir, procure um especialista”. Não encare a insônia ou o sono de má qualidade como uma parte inevitável do envelhecimento. Um médico (clínico geral, geriatra, neurologista ou especialista em sono) pode investigar as causas subjacentes dos distúrbios do sono, que podem variar de apneia do sono a depressão ou efeitos colaterais de medicamentos.

O especialista poderá realizar uma avaliação completa, solicitar exames como a polissonografia (estudo do sono) e indicar o tratamento mais adequado, que pode incluir terapias comportamentais (como a Terapia Cognitivo-Comportamental para Insônia – TCC-I), ajustes medicamentosos ou o uso de dispositivos específicos (como o CPAP para apnéia do sono).

Conclusão: Invista no Seu Sono, Invista na Sua Vida

O sono de qualidade é uma necessidade em todas as idades. Embora o envelhecimento traga mudanças naturais ao padrão de sono, a dificuldade persistente para dormir não deve ser ignorada. Os impactos de um sono ruim na função cognitiva, na segurança e na qualidade de vida são significativos. Ao adotar hábitos saudáveis e, principalmente, ao buscar ajuda profissional quando necessário, é possível identificar e tratar os distúrbios do sono, garantindo que os anos da maturidade sejam vividos com energia, clareza mental e o bem-estar que um bom descanso pode proporcionar. Não hesite em procurar um especialista; seu sono e sua saúde agradecem.